A carta
- Você está olhando para esse envelope há exatos dez
minutos. Por que não abre e acaba com esse suspense?
- Você está me vigiando? O que há com você?
- Laura eu me importo muito com você e vi quando o boy
lhe entregou esse envelope. Conheço-a há tempo suficiente para saber de quem é
e também que ela vai lhe trazer um grande aborrecimento.
- Não exagere Paulo, essa carta me trouxe lembranças,
situações que demorei muito para compreender, que ficaram guardadas lá no fundo
do meu inconsciente. E se pode se dizer isso, no fundo do meu coração.
- Então abra, já que trouxe lembranças, talvez cure de
vez as feridas.
- Talvez! Mas não vou fazê-lo aqui. Não quero você
bisbilhotando a minha vida. Vou para casa e amanhã conversaremos.
No dia seguinte como de hábito, Paulo esperou por Laura
na entrada do prédio em que trabalhavam. Observava-a como um cão farejador, na
expectativa de encontrar alguma emoção. Vendo sua aflição, Laura disse:
- Paulo o que é isso? Nos conhecemos a tantos anos e você
está me olhando como se eu estivesse com uma doença contagiosa. Tudo isso por
curiosidade?
- Você está enganada Laura, eu estou preocupado com você.
Sei quem mandou a carta e o quanto ele a fez sofrer. Por isso estou aqui
esperando-a para saber o que ele quer agora.
Laura respirou fundo e disse calmamente:
- Explicar porque me deixou naquela noite.
- Depois de todo esse tempo? Você não vai aceitar as
explicações dele vai?
- Paulo eu nem terminei de falar, o que há com você?
- Você não percebe não é? Eu estou aqui todos os dias a
sua espera e você não me vê. Procuro você em todos os lugares e você não
consegue me enxergar não é mesmo? Sou um idiota, com certeza você vai aceitar
as explicações e recebê-lo de volta.
Laura olhava-o boquiaberta:
- Por que você nunca me falou dos seus sentimentos?
Sempre me fez acreditar que não queria compromisso. Agora me acusa de não entendê-lo?
Tudo por causa de uma carta que você nem sabe o que contém?
- Laura eu amo você há muito tempo. Sempre tive medo de
revelar-lhe meus sentimentos por medo de ser rejeitado. Sei o quanto ele era
importante para você.
- Então se eu não tivesse recebido aquela carta você
jamais se declararia?
Paulo sentiu-se ruborizar e apenas sacudiu a cabeça.
- Meu Deus Paulo, quanto tempo perdido. Estamos juntos
praticamente todos os dias e separados por uma dúvida sua. Você devia confiar
mais em si mesmo e entender que uma carta muitas vezes serve apenas para
solucionar um vazio do passado. Uma situação não resolvida. Nada além disso.
- Laura me sinto um adolescente pego numa travessura. Por
favor me dê uma nova chance, me permita amá-la como eu sempre sonhei.
- Com uma condição.
- Todas as que você impuser.
- Nunca mais falaremos sobre o passado.
Paulo sorriu e beijou-a ternamente. Abraçados seguiram
para mais um dia de trabalho, enquanto a carta permanecia fechada dentro da
bolsa de Laura.
Cristina
Cimminiello
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